1. Quantas pessoas têm diabetes no Brasil? E no mundo? Todas essas pessoas sabem que são portadoras da doença?
A International Diabetes Federation (IDF) publicou, em 2015, as estatísticas mais recentes sobre o impacto médico-econômico-social do diabetes em todo o mundo e, particularmente, na América Latina e no Brasil.
2. Desse total, quantos por cento têm diabetes do tipo 1 e quantos do tipo 2?
As estatísticas mundiais mostram que 10% da população com diabetes apresenta o tipo 1 (diabetes da criança) e 90% apresenta o tipo 2 (diabetes do adulto). Nos últimos anos, com o aumento de casos de obesidade em adolescentes, cresce o número de portadores de diabetes tipo 2 nessa faixa etária.
3. Em que idade ou fase da vida normalmente as pessoas descobrem que têm diabetes?
O diabetes tipo 1 em geral se manifesta de forma abrupta em crianças e adolescentes. Já o diabetes tipo 2 costuma se manifestar depois dos 40 anos de idade.
4. Normalmente, os pacientes descobrem por acaso durante uma consulta médica ou a maioria que sabe que tem a doença percebeu os sintomas e foi procurar um profissional da área da saúde?
Não existem estudos específicos sobre esse assunto mas a prática clínica mostra que mais de 50% das pessoas com diabetes tipo 2 teve seu diagnóstico feito acidentalmente e sem manifestação prévia de sintomas sugestivos da doença.
5. Quais são os primeiros sintomas?
Os sintomas clássicos do diabetes incluem excesso de sede (polidípsia), excesso de urina (poliúria) e excesso de apetite (polifagia). Mas, é importante ressaltar que mais da metade dessas pessoas não apresentam sintomas típicos de diabetes.
6. Quais são os mitos e verdades em relação ao diabetes?
A Sociedade Brasileira de Diabetes publicou um conjunto importante de mitos e fatos sobre diabetes, os quais são discutidos a seguir:
Mito: Diabetes não é uma doença tão séria
Qual é a verdade? Se você controlar o diabetes adequadamente, você pode prevenir ou adiar as complicações. De acordo com uma pesquisa realizadas nos Estados Unidos, as condições associadas ao diabetes causam mais mortes do que o câncer de mama e a Aids, juntas. Duas em cada três pessoas com diabetes morrem em função de problemas cardiovasculares ou derrame.
Mito: Se você está acima do peso ou obeso, um dia vai desenvolver Diabetes Tipo 2
Qual é a verdade? Estar acima do peso é, sim, um fator de risco para Diabetes Tipo 2, mas há outros, como a história familiar e a idade. Muitas pessoas acham que o sobrepeso é o único fator. Mas atenção: muitas pessoas magras ou com peso normal têm diabetes e muitas pessoas com sobrepeso nunca desenvolvem a doença.
Mito: É muito fácil saber se você tem diabetes, os sinais são claros
Qual é a verdade? O diabetes não tem sintomas claros. Algumas pessoas com pré-diabetes, por exemplo, podem apresentar sinais mais aparentes do que uma pessoa com diabetes. As complicações também não são iguais para todas as pessoas. É importante realizar exames de rotina, saber quais são os fatores de risco e buscar o diagnóstico.
Mito: Comer muito açúcar causa diabetes
Qual é a verdade? A resposta não é tão simples. Diabete Tipo 1 é causada por fatores genéticos e outras causas ainda desconhecidas. Diabetes Tipo 2 é causada por fatores genéticos e estilo de vida. Estar acima do peso contribui para o risco de desenvolvimento do Tipo 2, e uma dieta hipercalórica, não importando a fonte das calorias, favorece o ganho dos ‘quilos a mais’. Algumas pesquisas mostraram que o consumo de bebidas açucaradas, como sucos industrializados e refrigerantes, pode ter vínculo com o desenvolvimento de Diabetes Tipo 2. Uma das medidas para prevenir Diabetes Tipo 2 é reduzir o consumo de bebidas açucaradas, como refrigerantes, bebidas com suco de frutas, sucos e chás industrializados e bebidas energéticas, por exemplo. Em uma garrafinha de 600 ml de refrigerante, há entre 60 e 70g de açúcar. Isso equivale a 13 pacotinhos de açúcar desses que a gente vê nas mesas de restaurante, ou a um terço de um corpo de 200 ml. É muito açúcar.
Mito: Pessoas com diabetes devem comer alimentos especiais para diabéticos
Qual é a verdade? Uma refeição saudável significa, geralmente, a mesma coisa para uma pessoa com diabetes e uma pessoa sem diabetes. Com pouca gordura, principalmente saturada e trans; moderada em sal e açúcar; privilegiando cereais integrais, vegetais e frutas. Comida ‘dietética’ quase sempre não oferece benefícios extras. Alguns desses produtos ainda contribuem para aumentar os níveis de glicose, geralmente são mais caros e podem até ter efeito laxante. A alimentação saudável é aquela indicada pela equipe multidisciplinar, formada por médicos, nutricionistas, educadores físicos, psicólogos, cardiologistas, podólogos e enfermeiros.
Mito: Se você tem diabetes, só deve comer pequenas quantidades de alimentos ricos em amido, como pão, batata e massas
Qual é a verdade? Depende. Alimentos ricos em amido podem fazer parte do planejamento de uma alimentação saudável, mas o tamanho da porção é a chave. Pães integrais, cereais, massa, arroz e vegetais como batatas, inhame, ervilha e milho podem ser incluídos nas refeições e petiscos. Você está se perguntando quanto de carboidrato pode comer? Isso vai depender do controle que você faz – dependendo de como estão seus níveis de glicose no sangue, você precisará comer mais ou menos carboidratos. Como a ajuda da equipe multidisciplinar e do Manual de Contagem de Carboidratos da Sociedade Brasileira de Diabetes, essa tarefa se torna muito mais fácil e natural: http://www.diabetes.org.br/pdf/manual-carboidratos.pdf.
Mito: Pessoas com diabetes não podem comer doces ou chocolate
Qual é a verdade? Doces e chocolates podem ser consumidos por pessoas com diabetes, Se estiverem dentro de um planejamento alimentar combinado com exercícios físicos. Há algum tempo, eles deixaram de ser proibidos. O ‘pulo do gato’ em relação aos doces e chocolates é que eles devem ser consumidos em pequenas porções e em ocasiões especiais, ou seja, nesses dias você poderá focar as refeições em opções mais saudáveis, permitindo a ingestão de doces. Outra dica importante é evitar pular refeições.
Mito: Diabetes pode ser transmitido de uma pessoa para outra
Qual é a verdade? Não. Diabetes não é contagiosa. As causas são genéticas e, no caso do Tipo 2, associadas ao estilo de vida. Saiba mais em Tenho risco de ter diabetes?
Mito: Pessoas com diabetes estão mais propensa a ter gripes e outras doenças
Qual é a verdade? Não. Não há comprovação de que você estará mais sujeito a gripes e resfriados, mas é importante se prevenir. Pessoas com diabetes são aconselhadas a tomar vacinas contra a gripe porque a virose pode tornar o diabetes mais difícil de controlar e também porque, nesse grupo, a gripe pode evoluir mais frequentemente para complicações sérias.
Mito: Se você tem Diabetes Tipo 2 e é comunicado pelo médico que deverá começar a tomar insulina, isso significa que você falhou no controle
Qual é a verdade? Para a maioria das pessoas, o Diabetes Tipo 2 é uma doença progressiva. Assim que diagnosticadas, muitas pessoas conseguem manter seu nível de glicose normal apenas com o uso de medicamentos orais, planejamento alimentar e atividade física. Ao longo do tempo, no entanto, o organismo produz cada vez menos insulina. A medicação pode não ser suficiente para controlar a taxa de glicemia. Usar insulina para controlar a glicose é uma coisa boa, não ruim.
7. Há alguma pesquisa recente em relação à doença?
O diabetes é uma das condições mais intensamente pesquisadas, tanto em função de sua importância médico-econômico-social, como também do número altamente expressivo de pessoas portadoras da doença.
8. É possível um pré-diabético evitar a doença somente com uma alimentação adequada?
Uma alimentação adequada pode promover um controle eficiente da condição de pré-diabético, desde que as orientações nutricionais sejam seguidas rigidamente. Em alguns casos, o tratamento farmacológico pode ser necessário.
9. Quais são os alimentos mais indicados para quem tem diabetes?
Cada paciente apresenta uma condição clínica peculiar e, portanto, necessita de uma orientação nutricional que atenda às suas necessidades biológicas e também que seja compatível, tanto quanto possível, com as preferências alimentares de cada pessoa.
10. Quais são os alimentos proibidos?
A rigor, não existem alimentos proibidos no sentido extremo do termo. O que existe são alimentos cuja ingestão deva ser limitada e também outros alimentos cuja ingestão possa ser mais liberal. Sempre que possível, recomenda-se que a conduta alimentar de cada paciente seja definida por médico ou nutricionista especializada em diabetes.
11. Quais são as principais orientações que a Sociedade Brasileira de Diabetes pode dar para a população para evitar essa doença?
O diabetes tipo 2 apresenta um componente genético que faz com que pessoas de uma mesma família tenham maior propensão de adquirir essa condição. Por outro lado, fatores ambientais como uma alimentação desregrada e a ingestão excessiva de carboidratos e gorduras podem levar a uma condição de obesidade, que aumenta o risco do desenvolvimento de diabetes.
12. E no caso de quem já foi diagnosticado com diabetes, quais as orientações da SBD?
Primeira recomendação importante: o diabetes não tem cura, mas pode ser adequadamente controlado por pessoas bem informadas sobre a doença e que seguem rigorosamente as orientações recebidas. É muito importante a realização de testes de glicemia em domicílio para avaliar, de maneira mais precisa, como anda o desejável controle glicêmico.
Dr. Augusto Pimazoni-Netto | CREMESP 11.970
- Doutor em Ciências (Endocrinologia Clínica) pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP